Um caso de injúria racial envolvendo um motorista de Uber e duas mulheres foi registrado na Polícia Civil em Pelotas. Em uma viagem entre os bairros Cruzeiro e Areal, no último sábado (18), uma jovem de 19 anos e sua avó, de 66, teriam ouvido insultos do motorista do aplicativo. O caso foi registrado em um Boletim de Ocorrências na Polícia Civil e reportado à Uber através do próprio aplicativo.

A.L.G., que prefere não ter o nome identificado, conta que a viagem tinha destino a casa do seu namorado, no Areal. Além deste destino final, no caminho deixaria sua avó em casa. Já na chegada ao ponto de partida, relatou, o motorista teria se mostrado desconfiado com o destino. Conforme a estudante, já no primeiro contato o homem teria se mostrado exaltado.

“Já começou pela desigualdade por causa dos bairros. Dizendo que a gente ia armar pra ele. E eu falava pra ele: eu estou te dando a minha palavra que a viagem é para onde está marcado”, contou a jovem, que é estudante. Sentindo-se mal com a situação, avó e neta teriam até proposto ao motorista que cancelasse a viagem para chamar outro veículo. Foi quando o motorista teria mudado de postura.

E foi durante a viagem que teriam acontecido os insultos: “O motorista começou a falar: eu levei uma vez uma senhora de cor e umas crianças e quase levaram o meu carro. Deixando claro que trata, nós negros, totalmente diferente. Depois, quando chegamos na primeira parada, ele ficava perguntando: é aqui neguinha?”, lembra e lamenta a estudante os termos racistas que teriam sido utilizados pelo motorista.

A Uber não informou se o motorista sofrerá algum tipo de sanção da empresa. O delegado responsável pela área disse que ainda não teve acesso ao boletim para se manifestar.

Crime deve ser denunciado

Advogado e coordenador da Comissão de Igualdade Racial da OAB Pelotas, Antônio Carlos P. Rosa, acredita que, em tese, trata-se de injúria racial, crime previsto no Código Penal Brasileiro. “São as ofensas proferidas contra determinada pessoa através da utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. A pena aplicável é de reclusão de 1 a 3 anos e multa”, indica o advogado.

Antônio comenta que se tem observado uma crescente ocorrência de casos desta natureza em todo o Brasil desde o início de 2019. O aumento de denúncias, pontua, se deve ao trabalho de maior divulgação e esclarecimentos para a população, mas também devido ao retrocesso histórico que o país vem vivenciando. “Em nossas manifestações, sempre orientamos as pessoas que sofram algum tipo de abordagem desta natureza que denunciem o fato em alguma Delegacia da Polícia Civil e posteriormente busque a orientação jurídica de um advogado de sua confiança”, orienta.

Antirracista

A.L.G., que neste ano está ingressando no curso de Direito da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), disse que chegou na casa do namorado frustrada. “É por causa destes casos, destas problemáticas, que eu escolhi o curso de Direito. E eu vou estudar e me esforçar para que eu possa trabalhar especialmente nestes casos para ajudar a justiça a ser feita contra as pessoas racistas”. Ela ainda opina que o racismo deve ser tratado com urgência a importância, uma vez que diversas pessoas sofrem com isso diariamente no Brasil. Já em contato com um advogado da família, ela confirmou que levará o caso à Justiça.

Nota da Uber

Questionada quais as medidas adotadas em casos semelhantes e se haverá algum tipo de sanção ao motorista envolvido, a Uber emitiu uma nota: “A Uber tem uma política de tolerância zero para qualquer forma de discriminação. Em casos dessa natureza, a empresa fica à disposição para colaborar com as autoridades e compartilhar informações sobre os envolvidos, observada a legislação aplicável.”